Compositor: Não Disponível
Tínhamos vinte anos, tu e eu
Quando, sob o mesmo teto
Lutamos juntos contra a miséria
Éramos ainda quase crianças
E, ao ver-nos, diziam
Vejam como eles se parecem
De mãos dadas, superamos
Os golpes do destino
E resolvemos muitos problemas
Com o ventre vazio, em privação
Tu te alimentavas de ilusões
Bastava-te que eu te amasse
Lutamos durante tantos anos
Que a fortuna nos foi dada
Mas a idade levou tua leveza
Tu te arrastas como um fardo
E já não ris por qualquer coisa
E choras tua adolescência
E passas, da manhã até a noite
Horas, na frente do espelho
Experimentando sombras e cremes
E eu, às vezes, lamento
O tempo em que, para forjar tuas alegrias
Bastava-te que eu te amasse
Se eu pudesse, meu amor
Para ti, deteria o curso
Das horas que vão e se extinguem
Mas, não posso mudar nada disso
Pois estou, como tu, embarcado
No mesmo barco
Não cultives os remorsos
Pois nunca se recolhem
Senão os sentimentos que semeamos
Faz como no tempo dos anos dourados
E lembra-te que, ontem ainda
Bastava-te que eu te amasse
Para mim, nada mudou realmente
Não deixei de te amar
Pois tens sempre todo o encanto
Que tinhas, naquele dia bendito
Em que, perante Deus, disseste: Sim
Com os olhos cheios de lágrimas
A primavera passa, depois o verão
Mas, o outono tem alegrias ocultas
Que precisas tu mesma descobrir
Esquece a crueldade do tempo
E lembra-te de que, aos vinte anos
Bastava-te que eu te amasse